quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Desvio de função: o inchaço da máquina da educação pública



        A sociedade, se se pretende democrática, precisa ter coragem de reconstruir a educação pública e não mais brincar de batata-quente com os problemas da criança e do adolescente. A gestão pública é uma máquina pesada, com muita gente em desvio de função para fiscalizar e mandar fazer e poucos estão na linha de frente da educação para uma ação real e efetiva atendendo os jovens e suas famílias. As inchadas máquinas administrativas de todas as esferas precisam atender às necessidades das crianças e dos adolescentes, para que deixem de ser clientela de problemas sociais (que sempre existiram) e voltem a ser “estudantes”.

O foco no desvio faz perder o caminho




Enquanto o foco continuar sendo a exceção ou o desvio, continuaremos a perder o caminho. Quem fica paralisado explicando o porquê do desvio esquece-se de caminhar. A visão assistencialista de Estado promove cursos e intermináveis reuniões para justificar o erro, já que não dá conta de gastar corretamente o dinheiro do contribuinte para melhorar a qualidade da educação. É um círculo vicioso: problema -> reunião -> dinheiro gasto em falação -> falta de dinheiro para equipar a escola -> problema piorado. Reuniões de cúpula e protocolos para a imprensa são inúteis se não houver disposição de dar sequência às bandeiras levantadas.

A praxe de ignorar o professor e a sala de aula



Os gestores da educação, os detentores de mandatos e cargos públicos, os juizados, as promotorias, os conselhos tutelares, a imprensa e os profissionais de serviço social e psicologia, precisam dar mostras que conhecem a escola de perto e que existem para proteger também o direito das maiorias. Só assim pode-se dizer que estão protegendo a criança e o adolescente dignos. Professor que fica administrando conflitos com constância não tem tempo nem equilíbrio para ensinar.

Assistencialismo X mercado



        Implantados, os planos educacionais não são mais discutidos, nem reavaliados com regularidade e acabam sendo enterrados numa vala comum. E a educação nunca se ressentiu tanto da falta de uma diretriz séria que dê conta de vencer esse caos pós-moderno. Não há coerência entre os planos e as ações de governo para o setor. Propõe-se um tipo de educação assistencialista e cobram-se resultados práticos que atendam às exigências do mercado. O setor nunca precisou tanto de gestores com uma sólida cultura humanista para conduzirem a educação com seriedade e democracia. E assim, aventuras e mais aventuras pedagógicas são experimentadas a cada troca de governo ou de gestor, a ferro e fogo pelos detentores de cargos e funções de confiança.

O descompasso entre gestão e objeto



        A formulação dos planos oficiais que orientam as políticas para o setor apresentam todos os problemas possíveis. Ora são ditados pelo FMI, ora por uma visão assistencialista do estado, ou ainda por comissões que fugiram da sala de aula há muito tempo. Quando apenas esboçados são implantados como panaceia pelos vários escalões dos governos, ávidos por inaugurarem qualquer banalidade que impressione pelo bombardeio da grande mídia. Quase sempre são planos que se amparam teoricamente nas vertentes acadêmicas da moda e que trabalham com referências de uma escola que não existe mais.
      Em suma, começam ignorando a sala de aula; começam falidos.

Educação: não há vagas para capatazes!



  Se uma empresa não é produtiva e lucrativa, qual teórico da economia ousaria colocar a culpa exclusivamente na linha de produção? É uma questão ridícula, diriam. Mas é o que acontece na educação. A educação segue caminhos pautados pela orientação canhestra de uma política nociva para o setor e, quando aparecem os resultados indesejados, eles são terceirizados para o professor que nunca é ouvido nas decisões importantes. Desencontro instalado é preciso encontrar capatazes que administrem o conflito.